terça-feira, setembro 16, 2003

Aos olhos do poeta



Texto para uma Separação

(Elisa Lucinda)



Olhe aqui, olhos de azeviche

Vamos acertas as contas

porque é no dia de hoje

que cê vai embora daqui...

Mas antes, por obséquio:

Quer me devolver o equilíbrio?

Quer me dizer por que cê sumiu?

Quer me devolver o sono meu doril?

Quer se tocar e botar meu marcapasso pra consertar?

Quer me deixar na minha?

Quer tirar a mão de dentro da minha calcinha?

Olhe aqui, olhos de azeviche:

Quer parar de torcer pro meu fim

dentro do meu próprio estado?

Quer parar de saxdoer no meu próprio rádio?

Vem cá, não vai sair assim...

Antes, quer ter a delicadeza de colar meu espelho?

Assim: agora fica de joelhos

E comece a cuspir todos os meus beijos.

Isso. Agora recolhe!

Engole a farta coreografia destas línguas

Varre com a língua esses anseios

Não haverá mais filho

pulsações e instintos animais.

Hoje eu me suicido ingerindo

sete caixas de anticoncepcionais.

Trata-se de um despejo

Detetize essa chateação que a gente chamou de desejo.

Pronto: última revista

Leve também essa bobagem

que você chamou

de amor à primeira vista.

Olhos de azeviche, vem cá:

Apague esse gosto de pescoço da minha boca!

E leve esses presentes que você me deu:

essa cara de pau, essa textura de verniz.

Tire também esse sentimento de penetração

esse modo com que você me quis

esses ensaios de idas e voltas

essa esfregação

esse bob wilson erotizado

que a gente chamou de tesão.

Pronto. Olhos de azeviche, pode partir!

Estou calma. Quero ficar sozinha

Eu co'a minha alma. Agora pode ir.

Gente! Cadê minha alma que estava aqui?

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