domingo, março 18, 2007

Analfabetismo tecnológico




Como educadora, tenho lutas diárias para tentar fazer as coisas nas quais eu acredito - ou quero acreditar, ou acho que acredito... tento ser coerente. E isso em todos os aspectos, não apenas como educadora. Eu gosto da coerência, gosto de pessoas coerentes. Mas talvez isso não seja da natureza humana (?). Às vezes me é difícil não sentir reforçar um preconceito com o povo soteropolitano, no que tange a falta de comprometimento, de compromisso, de responsabilidade, de respeito para com o outro, o excesso de egoísmo e de imediatismo.

É, é isso o que eu sinto em muitas situações quotidianas na soterópolis. A "bola da vez" foram três "furos" na semana passada.

Combinei com um amigo de jantarmos na quinta-feira. Como de costume, me organizei, fiz o que tinha que fazer de rua, tratei de ter a casa limpinha e organizada, fiz os trabalhos que tinham que ser feitos, deixei as coisas de Feira prontinhas para a madrugada seguinte... mas você me ligou, caro leitor? Não, nem ele. À noite, por volta das 21h, ele liga. Diz que "tentou falar comigo no msn, mas não conseguiu". Eu respondi que não era verdade pois meu computador tinha sido ligado pela manhã, às 7h e tinha ficado ligado o dia inteiro, e o msn conectado. E se ele tivesse tentado falar comigo, eu teria visto. Então ele responde, numa demonstração de analfabetismo digital, que não me mandou mensagem alguma, mas não conseguiu falar comigo porque tinha sempre "um reloginho" no meu nome.

E telefone? Como ele conseguiu pensar em pegar num telefone às nove da noite, mas não antes? Ainda solta a pérola: "eu não esqueci da janta, mas hoje estou meio cansado, meio gripado". Mas amanhã eu te ligo, ao meio dia. Vamos combinar alguma coisa. (cuidado! soteropolitanos quando falam isso, indicam alta probabilidade de não combinar nada)

E aí, leitor, você me ligou no dia seguinte?

Pois.

No sábado, fiquei de sair com um amigo que passaria na minha casa. Ele mora lá nas grotas*, e falamos no msn, ele disse que estava saindo de casa. Beleza. O tempo passou, passou, arrumei as coisas, desliguei o computador, e esperei... e nada, e nada... e acabei pegando no sono, esperando. Na manhã seguinte, entro eu online - porque eu sou essa pessoa online, né? - e ele aparece cedinho, e pedindo desculpas. Disse que saiu de casa, ficou duas horas esperando o ônibus, que não apareceu. E eu acredito, já esperei um tempão esse mesmo ônibus. Mas, pô, poderia ter avisado, né? O moçoilo disse que voltou pra casa indignado e entrou no msn para falar comigo, mas eu não estava online. E eu perguntei, por que não ligaste? "É, né, deveria ter ligado, foi vacilo meu". Fala séeeerio!!! Eu não liguei porque ele não tem celular, senão o teria feito. "Não fica zangada comigo".

O que acontece com esse povo? Isso é que é mau uso das novas tecnologias. Eu posso até ser toda "internética", mas eu uso telefone, e correio normal, e vou na casa das pessoas, e grito na rua, se for o caso. Espanta-me esse povo que usa constantemente algumas ferramentas da internet mas que desconhece coisas básicas, como reconhecer o que é o "reloginho" no MSN. Ou "vacilar" esquecendo que ainda existe telefone, e fixo!, neste mundo.

Nessas horas eu penso comigo: não é preconceito, é estatística.




*em baianês, "lá na casa da porra"; em paulistês, "lá na casa do caralho"; em português, "num lugar muito longe". Fala sério, em português não tem graça.

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