Gostei deste Blog.
The Matrix
Não, tu não vais, acreditar, eu não acredito. Sabe assim, dois universos paralelos? E de repente, não mais que de repente, um borrão no papel, uma falha no Matrix faz com que estes dois universos se toquem.
Ainda estou perplexa. Esta quarta-feira abalou o meu mundo.
* * * * * * * * * * *
No clima do Manifesto Comunista, a poesia que apresentei na aula ontem.
Operário em Construção
Vinicius de Morais
Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa quer ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quatel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse eventuialmente
Um operário em contrução.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua propria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro dessa compreessão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu tambem o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Excercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edificio em construção
Que sempre dizia "sim"
Começou a dizer "não"
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão.
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrao.
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução
Como era de se esperar
As bocas da delação,
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão,
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupacão.
- "Convenciam-no" do contrário
Disse ele sobre o operario
E ao dizer isto sorria.
Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado,
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido,
Teve seu braço quebrado.
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário,
Sua primeira agressão.
Muitas outras seguiram,
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edificio em construção
Seu trabalho prosseguia.
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento,
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário,
Um dia tentou o patrão
Dobra-lo de modo contrário.
De sorte que o foi levando,
Ao alto da construção
E num momento de tempo,
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário,
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação.
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer,
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês,
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse e fitou o operário,
Que olhava e refletia.
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos.
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia,
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coracão.
Um silêncio de martírios,
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão.
Um silêncio apavorado,
Com o medo e solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição.
Um silêncio de fraturas
A se arratarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos.
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração.
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido.
Razão porém que fizera
Em operário construído.
O operário em construção
The Matrix
Não, tu não vais, acreditar, eu não acredito. Sabe assim, dois universos paralelos? E de repente, não mais que de repente, um borrão no papel, uma falha no Matrix faz com que estes dois universos se toquem.
Ainda estou perplexa. Esta quarta-feira abalou o meu mundo.
No clima do Manifesto Comunista, a poesia que apresentei na aula ontem.
Operário em Construção
Vinicius de Morais
Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa quer ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quatel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse eventuialmente
Um operário em contrução.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua propria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro dessa compreessão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu tambem o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Excercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edificio em construção
Que sempre dizia "sim"
Começou a dizer "não"
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão.
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrao.
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução
Como era de se esperar
As bocas da delação,
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão,
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupacão.
- "Convenciam-no" do contrário
Disse ele sobre o operario
E ao dizer isto sorria.
Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado,
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido,
Teve seu braço quebrado.
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário,
Sua primeira agressão.
Muitas outras seguiram,
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edificio em construção
Seu trabalho prosseguia.
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento,
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário,
Um dia tentou o patrão
Dobra-lo de modo contrário.
De sorte que o foi levando,
Ao alto da construção
E num momento de tempo,
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário,
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação.
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer,
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês,
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse e fitou o operário,
Que olhava e refletia.
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos.
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia,
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coracão.
Um silêncio de martírios,
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão.
Um silêncio apavorado,
Com o medo e solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição.
Um silêncio de fraturas
A se arratarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos.
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração.
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido.
Razão porém que fizera
Em operário construído.
O operário em construção
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Vai, abre teu coração...