Este foi meu pior de semana na terra do Tio Sam. Se por um lado foi bom conversar com minha mãezinha no sábado à noite, e comer um almocinho tri bom (que eu cozinhei) no domingo, por outro foi muito ruim não produzir coisa alguma. Foi muito ruim tentar trabalhar e não conseguir. Foi particularmente ruim ter que fazer várias pequenas paradas sociais. Almocei com meus colegas Fulbright no sábado, foi bacaninha, mas ó pelo fator social. Tomei uma sopa ruim e investi um monte de tempo. Se eu estou em casa o dia inteiro, só tenho que tomar banho e ficar no meu roupão o dia inteiro. Se tenho que sair é tomar banho, me arrumar, bla bla bla, caminhar até o ponto de encontro, ficar um tempão ainda esperando os outros, depois tem mais um tempo até definir um lugar pra ir, chegar no lugar. Senta, bate papo, come, gasta dinheiro.
Ser sociável é bom, é importante, eu gosto de ver as pessoas, claro, mas me toma muito tempo.
Depois a outra coisa ruim foi ser sociável com minhas colegas de apartamento. Eu adoro elas, elas são super queridas e sou a pessoa mais sortuda da face da Terra por tê-las como colegas de casa. Mas eu estava no espírito de querer/precisar trabalhar, e elas queriam bater papo. E eu não consigo trabalhar, parar, conversar, voltar a trabalhar. Eu preciso ficar ruminando na frente do computador, e trabalhar e parar, mas ficar aqui, rondando, lendo, parando, escrevendo, parando. Daí vinha uma, depois vinha outra. E ficavam aqui de papo. E eu adoro conversar com elas, claro, elas são super fofas e divertidas, mas eu realmente queria trabalhar.
E o Samuel e suas ligações no fim do dia. A gente já conversou um milhão de vezes para ele ligar cedo, pela manhã, quando é muito mais fácil para mim, em termos de concentração, para papear ao telefone. Porque se eu parar tudo, já noite, para falar ao telefone, sinto muito, depois não volto pra estudar.
Pode parecer tudo desculpa esfarrapada de procrastinador compulsivo, mas não é. Após anos e anos estudando, eu acabei desenvolvendo este jeito meio estranho de estudar, de me concentrar, de produzir. Se o mundo inteiro resolver me interromper após às 20h, e fazer encontros após às 20h (e que comece antes das 22h, por favor!), fica ótimo, perfeito, maravilhoso. Assim eu fico com o dia inteirinho pra trabalhar "do meu jeito". Tem gente que, contrariamente, só funciona à noite. E funcionam muito bem. É uma questão de estilo, sei lá. Ou treino.
Eu só sei que eu não funciono com várias interrupções, só isso. Isso acaba comigo e eu fico me sentindo a última das criaturas, pois não consigo fazer meu trabalho andar. Agora tenho trabalho acumulado e atrasado, e bate um certo pânico. E uma das coisas que mais me irrita é pessoas dizendo "ah, mas vai ficar tudo bem", "ah, mas depois você faz", "depois você se concentra e dá um gás". Gás? Gás??? Não, se eu não consegui produzir uma porcaria de um texto com vários dias, eu não vou produzir um em apenas algumas horas. Não entendo essa lógica. Aí, claro, tem os que dizem, ah, mas eu só funcino sobre pressão. Sim, meu bem, eu também, ou acha que eu quero escrever esses artigos só pelo prazer do conhecimento? Não, tem a pressão da data para entregar e a disciplina para concluir, e a nota, e a bolsa. "Desculpa lá", para usar uma expressão de alguém que conheço, mas eu não sou uma gênia, sou bem limitadinha até. Então, eu sou lerda. Eu preciso de tempo, e toooooda a concentração do mundo.
Escrever no blog toma tempo? Verdade, mas também exorciza. Então, para eu não ser grossa com ninguém, é melhor eu ganhar (porque não acho que é perder) esse tempo aqui.
Ah, sim, para ajudar, ontem ainda passei mal à tarde, tive ânsia de vômito e dores de cabeça tarde e noite. Acho que é o calor e o ar seco. Sim, tá quatro graus negativos lá fora, mas o aquecedor aqui transforma meu quarto numa sauna, e deixa o ar muito seco. Bebo água constantemente e passo creme hidratante nas narinas. Além disso, deixo minhas janelas abertas - super desperdício de energia, diga-se de passagem. Então acho que foi isso que me fez ficar enjoada ontem. Fiquei bem tontinha mesmo. Nunca desmaiei na vida, mas acho que a sensação de desmaiar passa perto das vertigens que senti ontem.
Oh, well... agora que já desabafei, já jantei, já vi tv e já bebi um vinho, me sinto bem melhor, e feliz pelo final de semana.
Vai entender...