quarta-feira, novembro 19, 2008

Compatriotas





Antes de vir para cá troquei emails com um colega bolsista que também viria para a mesma faculdade que a minha. Quando cheguei na cidade, fui comprar umas coisas básicas no supermercado aqui na frente de casa e, conversando com a dona do lugar, descobri que esse colega havia desembarcado também naquele dia e tinha feito compras por ali também. Vim pra casa e mandei email pra ele, comentando o fato. Mas ele nunca respondeu. Depois, nas milhares de sessões de orientação, cheguei a vê-lo um dia, quando chamaram para os alunos do Brasil se levantarem, e apenas nós dois nos levantamos. Tentei falar com ele, mas o menino havia sumido. Ok. Depois, numa recepção lá no quarteirão das Nações Unidas, no prédio chique da Fulbright, encontrei outros brasileiros: uma menina super bacana, do Rio (eu amo cariocas), e um menino que nem sei de onde é, visto que conversamos muito rapidamente. Não sei qual é o babado com os brasileiros aqui, não consigo manter contato com nenhum! Fora a Laura, e uma outra menina do Facebook, ah e uma outra do Orkut. Aliás, as brasileiras não ficam muito de frescura.

Enfim, daí, lá na Fulbright, a Laura me apresentou pro colega esse que estuda na mesma faculdade que eu. Oi, oi. Ok. Depois eu estava conversando com um outro menino não sei de onde e veio o colega esse e perguntou:

- Oi, estou procurando a Katemari, ela é brasileira também.
- Eu apontei pro meu crachá e disse, eu sou Katemari, nós já fomos apresentados.
- Não, a Katemari que eu estou procurando é japonesa.
- Ah, tá bom.

Sabe como é né gente, tem muita Katemari no Brasil. Nomezinho comum...

Comentários "aleatórios" no orkut:

Sobre as comemorações nas ruas do Harlem após a vitória do Obama:
Nao acredito que perdi essa festa! Vi da televisao e fiquei com muita preguica e confesso com um pouco de medo de sair de casa.


Sobre a localização de uma loja:
eu moro em Newark...essa loja ABC ,fica perto da Penn station aqui de Newark ... vc pega o metrô no aeroporto de Newark e desce aqui na Penn station ...sai na Ferry street , andando sempre do lado esquerdo da Ferry , passa em frente do walgreens e segue ...qualquer dúvida , pergunte a qualquer pessoa na rua , a maioria do pessoal daqui são hispanos e brasileiros ... no ABC , vc compra casacos a partir de 30 dólares, conjuntos de roupas térmicas por 5 dólares , luvas 0,99 centavos , conjunto de luvas +cachecol + gorro por 6 dólares ... vale conferir também as lojas : Easy picky e National ...confira as ofertas nos malls de Elizabeth e Jersey city , rota 21 ...se vc se animar vá à dowtown de Newark, que tem muitas lojas , mas fica na região dos negros e p/ vc andar por lá bom sozinha , pode ser perigoso ...bom , espero ter ajudado ...


Sobre segurança em Nova Iorque:

-Não andar acima da 100th st...
-Evitar de pegar metrô depois de 0hr...
-Depois de 0hr só taxi ou apé...
-Cuidado com Downtown depois das 19hrs, fica deserto...
-Cuidado com Chinatown de dia com pequenos roubos, e anoite nem pensar....
-Cuidado com latinos, principalmente porto riquenhos, cubanos...
-Se tu tiver sozinha, e tiver um grupo de negros reunidos, fazendo bagunça, Jamais passe por eles..
-Não vai andar no central park anoite...
-Não encare, pessoas mal encaradas em estações de metrô ou no próprio vagão!
-Não dê bola pra pessoas que vierem conversar contigo do nada, corta!!
-E pra evitar problemas, não toque nos americanos...




ONDE ESTÁ O RACISMO?
- Escuta aqui, ó criolo…
- O que foi?
- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.
- E não existe?
- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca… É, não adianta. Negro quando não faz na entrada…
- Mas aqui existe racismo.
- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia… E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.
Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!
- Eu insisto, aqui tem racismo.
- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?
- Não, mas…
- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?
- Eu sei, mas…
- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.
- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.
- Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.
- Mas isso é racismo.
- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.
- Sim, mas…
- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.
- Pois é, mas…
- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.
- Pois então. O …
- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.
- Mas…
- E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.
- É, mas…
- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.
- Sim, mas…
- E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.
Luís Fernando Veríssimo, 14 de Maio de 1975

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Vai, abre teu coração...