Fogaça derrota Pont e é o novo prefeito de Porto Alegre
Depois de 16 anos, PT deixa o comando da capital gaúcha
Neste dia 31 de outubro, a maioria dos eleitores porto-alegrenses optou pela mudança. Com 94,55% dos votos apurados, o candidato José Fogaça (PPS) já é o novo prefeito de Porto Alegre, colocando fim a 16 anos de administração petista.
Por volta das 19h30min, o ex-senador tinha 411.320 votos (51,43 % dos votos válidos) e já estava matematicamente eleito. O ex-prefeito e atual deputado estadual, Raul Pont (PT), fez 357.241 votos (44,67% dos votos válidos) e não tinha mais como mudar o cenário.
O número de votos em brancos registrados até o horário ficou em 1,63% (12.996) e votos nulos em 2,27%% (18.155 ). Foram registradas 155.985 abstenções (16,32%). Além do título de novo prefeito de Porto Alegre, Fogaça também comemora uma façanha: depois de três eleições tentando tirar o PT do governo municipal, finalmente a oposição conseguiu.
Mesmo fechando o primeiro turno em segundo lugar, a vitória já estava ao alcance. A diferença entre os dois candidatos foi de apenas 75 mil votos. Para se ter uma idéia do que isso significa, no primeiro turno de 2000, o atual ministro da Educação, Tarso Genro (PT), conseguiu uma vantagem de mais de 220 mil votos sobre o seu aversário, o deputado federal Alceu Collares (PDT).
Com a possibilidade de ganhar tão próxima, Fogaça soube agir rápido. A primeira ação foi garantir o apoio dos demais partidos da oposição ? PTB , PFL, PMDB, PDT, PV e PSDB. O PMDB, antigo partido de Fogaça, deixou os ressentimentos pela ruptura para trás e entrou na batalha para acabar com a dinastia petista. Um grande aliado foi o governador Germano Rigotto (PMDB) que declarou abertamento apoio a Fogaça, chegando a participar do comício de encerramento da campanha. Assim como no primeiro turno, a militância se mobilizou e foi às ruas, tendo que disputar espaço com os eleitores do PT que, amedrontados com a possibilidade de derrota de Pont, reagiram e foram às ruas fazer campanha.
Fogaça soube atacar os pontos fracos da administração petista: alagamentos, transportes, ensino por ciclos, saúde, empregos não criados. Soube também valorizar dois grandes êxitos do PT na admistração municipal e as meninas dos olhos do partido do presidente Lula: o Orçamento Partipativo e o Fórum Social Mundial. Desde o início, o candidato deixou claro que o OP e o FSM, assim como as demais obras e iniciativas boas, seriam mantidas e melhoradas ? seu slogan era "manter o que está bom e mudar o que não está". E soube, principalmente, mostrar que, depois de 16 anos, o PT já estava enfraquecido e Porto Alegre merecia uma mudança.
Esta foi a segunda vez que Fogaça concorreu pelo PPS. Em 2002, tentou permanecer no Senado por mais um mandato, mas ficou na quarta colocação com 1,8 milhão de votos e não conseguiu garantir uma das duas vagas. O resultado das urnas naquele pleito refletiu a frágil estrutura da legenda no Estado na época, fato que contribuiu para a derrota. O PPS até 2000 era um partido com baixa densidade eleitoral no RS, mas ganhou fortes nomes do PMDB em 2001, quando o grupo do ex-governador Antônio Britto deixou a tradicional sigla para ingressar no PPS.
Em 2002, o ex-governador saiu candidato pelo novo partido na disputa pelo governo estadual, mas não conseguiu chegar nem mesmo ao segundo turno. No entando, a sigla conseguiu crescer no Estado em suas representações parlamentares elegendo seis deputados estaduais e um federal. Neste ano, desde o início da campanha, o PPS despontou como a principal força de oposição na disputa pela prefeitura, e a única capaz de vencer o PT.
Pont não estava em situação de vantagem. O enfraquecimento do PT era evidente, inclusive na própria militância, que durante o primeiro turno optou por uma campanha discreta. O ex-prefeito carregou o desgaste de 16 anos à frente de um governo e teve de responder pelas promessas não cumpridas e obras não acabadas durante este tempo. Em cada discurso, era preciso lembrar das coisas boas implantadas, como a Terceira Perimetral e a centralização da cultura, e reforçar a idéia de que a continuidade era a chave para o sucesso. A união da oposição em torno de Fogaça, apesar de não ser supreendente, foi um golpe crucial que deixou o ex-prefeito praticamente isolado, apenas com o apoio do inexpressivo PSB de Beto Albuquerque.
Após quatro vitórias consecutivas e perto de aumentar o recorde para conquistar pela quinta vez uma prefeitura, o PT de Raul Pont amarga neste 31 de outubro um dolorosa derrota, que deverá abalar as estruturas da legenda em todo os país. Desde 1989, Porto Alegre foi o exemplo de sucesso na administração petista. Olívio Dutra, Tarso Genro por duas vezes, e o próprio Pont, em 1997, consolidaram um modelo de governo que fortaleceu o partido em âmbito nacional. Mas, como o próprio Fogaça pregou, 20 anos era tempo demais de governo e os porto-alegrenses optaram pela mudança.
Em 2005, um novo partido assume o comando da capital gaúcha. Fogaça pega a prefeitura com o compromisso de mudar o que não está bom e cheio de propostas novas. Recebe uma cidade que viveu durante 16 anos sob um modelo de administração e tem o compromisso de atendar às expectativas da população que optou por outra perspectiva.
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