domingo, janeiro 01, 2006

Insensatez



Could I just turn and stare in icy silence
What was I to do
What can one say
When a love affair is over


Primeiro dia do ano de 2006. Tá, tudo bem, o relógio do computador marca mais do que meia-noite, mas para mim é o primeiro dia. Fiquei em casa, trabalhei. Acho que mais dois dias (ou três, ou quatro) termino um capítulo. Assim, falta um subcapitulozinho só, para esse capítulo.

Almocei um arrozinho com feijão e salada, tri bom. Aliás, não jantei ainda, daqui a pouco vou jantar. Mas acho que hoje não irei até às 4h.

Assisti Pequeno Dicionário Amoroso na TV Cultura e depois (agora, por acaso) teve um debate sobre o filme. Foi para fechar com chave de ouro o primeiro dia do ano. Tem uma psicanalista brasileira, que anda deixando muita gente meiguxa indignada, que critica o amor romântico e ela estava na mesa do debate. Foi super legal. A trilha sonora do filme é espetacular, eu gosto da voz do Ed Motta, teve o gostoso Mor cantando Furutos Amantes no final do filmes (uma das minhas músicas preferidas, pra quem não sabe), e aí em cima tem um trechinho de outra das pérolas. Apenas coincidências, dirão os discrentes.

Como eu gosto de muitas das coisas que a tal psicanalista fala, coloco aqui parte de um texto dela. Quem quiser ver maior parte do texto, procure na internet, e quem quiser o texto toooodo, compre o livro. O que está aqui, vale a leitura! :-)

Desde que nascemos nos empurram o amor romântico goela abaixo, como se fosse um pacote econômico do governo. Não se discute, cumpre-se. Uma criança de um ano, por exemplo, já toma sua sopinha com a babá, assistindo à novela das sete. Na hora de dormir, a mãe conta a história de Branca de Neve ou Cinderela, e assim por diante.

Todas expectativas e idéias do amor romântico são passados como uma única forma de amor, e aprendemos a sonhar e a buscar um dia viver tal encantamento.

Entretanto, são várias as mentiras que o amor romântico impõe para manter a fantasia do par amoroso idealizado, em que duas pessoas se completam, nada mais lhes faltando. Entre elas estão afirmações absurdas como:

-Só é possível amar uma pessoa de cada vez.

-Quem ama não sente tesão por mais ninguém.

-O amado é a única fonte de interesse do outro.

-Quem ama sente desejo sexual pela mesma pessoa a vida inteira.

-Qualquer atividade só tem graça se a pessoa amada estiver presente.

-Todos devem encontrar um dia a pessoa certa.

Como nenhuma delas corresponde à realidade, em pouco tempo de relação vêm a decepção e a frustração. No amor romântico idealizamos a pessoa amada e projetamos nela tudo que gostaríamos de ser ou como gostaríamos que ela fosse. Não nos relacionamos com a pessoa real, mas com a inventada. É claro que, na intimidade da convivência do dia-a-dia, para manter a idealização a conseqüência natural é o desencanto. É por isso que se faz tanta música de dor de amor. E, para completar, todo mundo adora.
*

Gente, imperdível, vejam este site com um curso de como preparar um churras. É muito bom. Mesmo.

O Eduardo me ligou hoje, foi tão fofo. Minha mãe me ligou também, da praia, para desejar feliz ano novo. 2006 vai ser foda. Ou não. Meu ano vira quando da defesa desta tal dessa dissertação. Aí começará uma nova fase. Por enquanto, sou apenas engolida pelos afazeres e procuro não pensar em mais nada. E antes de dormir, vou beber a outra metade da garrafa de sidra, e apagar, entorpecida. Como diria o Wander Wildner "vou me entorpecer bebendo vinho, eu sigo só, o meu caminho".



*Este texto foi gentilmente cedido pela Psicanalista Regina Navarro Lins e foi extraído de um livro de sua autoria, entitulado de Na cabeceira da Cama - Editora Rocco. Outros livros publicados: “A cama na varanda” e “Conversas na varanda”.


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