Estou, desde quinta-feira, com meu ouvido fechado. Trata-se de uma
rolha de cerume. Já estou relativamente habituada a esse processo de fechar ouvido, abrir ouvido, mas estando em Porto Alegre. Aqui em Salvador não tenho plano de saúde, então procedimentos médicos são evitados ao máximo.
Certo, precisei ir ao médico. Fiz pesquisas de preço: a consulta mais barata para o otorrinolaringologista era de 120 reais, a mais cara 200. Isso foi na sexta. Esperei. Nada de melhorar. No sábado fui no Edifício Fundação Politécnica na Av. 7 de setembro em Salvador, lugar que abriga vários centros médicos com profissionais (?) que atendem a preços populares. Procurei por um otorrino, havia. Valor da consulta: 30 reais. Muito justo.
Paguei. Esperei. Esperei. Esperei. Fui atendida por uma senhora muitíssimo estranha, que me tratou muito bem, me abraçou, fez perguntas sobre minha vida. O sonho de qualquer consulta médica, né? Não fosse eu a (im)paciente.
Então, ela vai, fala, fala... e começa a me receitar vários remédios. Descon, entre eles. E eu que pensara que não era mais vendido. Continuando ela vai me explicar o porquê do Descon, afinal trata-se de um descongestionante nasal. Então ela diz que o nariz e o ouvido são ligados por um canal, e pelas
Trompas de Falópio. Não faltei a esta aula de Biologia. Sei bem onde ficam as tais trompas, e fiquei a me imaginar parindo pela narina direita. Ou esquerda? Seria pela boca?
Tudo bem, ela poderia continuar falando bobagens, eu não ligava, tudo o que eu queria era que ela fizesse a remoção da rolha (limpeza do ouvido). E eu perguntei... e a limpeza? Ela então passou-me uma "receita": água oxigenada, mertiolate (ué, o ministério da saúde também não proibiu o mertiolate, por causa do timerosal?), mistura tudo, pega um
palito de dente, quebra a pontinha, pra não furar o tímpano, coloca um algodãozinho na ponta e embebe na mistura, depois passa no ouvido, lá dentro. Sim, ela mandou eu introduzir um palito de dentes no ouvido. Qualquer otorrino a esta altura daria um tiro na tal médica, não? Por mim, tudo bem...
- E a limpeza, a senhora não tem os equipamentos (o mini aspirador que suga tudo de dentro do ouvido, ou aquele trocinho que joga água dentro do ouvido) pra fazer a limpeza?
- Ah, mas não pode tirar assim, porque você está tonta, pode ser pior, e vai infeccionar.Trinta reais jogados no lixo.
E meu ouvido ainda fechadinho. Nem preciso dizer que não comprei os remédios que a maluca passou, né?
Saí de lá e fui num hospital, 85 reais. Respirei fundo, pensei, e resolvi esperar até segunda-feira, e ligar para a médica da Roberta (que me ligou enquanto eu estava esperando pra ser atendida com a farsante, e me deu o número do telefone da otorrino dela). Se não rolar um preço de convênio com ela, irei no Hospital, e pagarei sem tristeza alguma. E voltarei a ouvir.
Falando em ouvir... Chico na vitrola: "...quero ver como suporta me ver tão feliz..."
Sim, sim, eu sou alfabetizada cientificamente, eu tenho noção de corpo humano, de medicamentos, e afins. O que me entristece, muito mais do que os 30 reais jogados no lixo, é o número abissal de pessoas que têm nesse tipo de "medicina" o único recurso "particular", e colocam ali seu suado dinheirinho, depositando suas vidas em gente incompetente e irresponsável.
É pra estas coisinhas do dia a dia que todo mundo tem que saber
de e
sobre ciências. Isso é pra minha amiga Flávia ver que tem coisas feitas na academia que, ainda não tendo aplicação direta na vida cotidiana, nem salvando o mundo, tem sua importância.
Como eu faço meu dever de casa... aqui vão uns textinhos pra quem quiser entender que porra é esta de rolha de cerume. Não, eu não sou uma porca que não limpa o ouvido, o problema, por sinal, é o contrário. Eu
não devo limpar! Não demais. Não além do só lavar a orelha no banho. Mas eu insisto em passar um cotonetezinho básico de vez em quando. Também, quem resiste... com aquele conjuntinho Coza sobre a bancada do banheiro... potinhos bonitinhos, com algodão dentro, cotonetezinhos dentro, tudo arrumadinho, daí dá vontade de usar!
OUVIDO ENTUPIDO (e/ou doendo)
Com esta queixa, muitas pessoas, procuram recursos médicos ou até mesmo as farmácias. A coisa pode ser simples ou não. Este problema ocorre, mais freqüentemente, no inicio do verão, quando dos mergulhos em rios, piscinas ou mar, já que a entrada de água sobre pressão nos ouvidos pode agravar patologias locais pré-existentes.
O principal exame que fecha o diagnóstico é a Otoscopia, feita com o uso de uma lanterninha própria que permite ver o meato acústico externo até o tímpano (a famosa membraninha onde se articulam os ossículos responsáveis pela transmissão do som, do tímpano até as vias centrais).
No meato acústico externo é onde normalmente encontramos as encrencas (infecções, grãos, areia, espuma, cerume, etc.). Particularizando no cerume que costuma ser o vilão mais freqüente, devemos tomar, logo as providências. Este se forma da secreção fisiológica, natural do conduto auditivo externo que tem função protetora do local contra agressões externas, dentre outras. Chega a ter, até mesmo, uma função repelente a insetos. Toda vez que mastigamos ou abrimos a boca, a articulação temporo-mandibular altera o assoalho do meato auditivo externo, subindo e descendo fazendo com que cera vaporizada no local saia da orelha como se fosse um spray de inseticida, desestimulando a entrada de bichinhos (sabedoria da Natureza).
Quando a produção de cera aumenta muito, por vários motivos, inclusive pessoais, forma-se a rolha de cerume. O uso indiscriminado de palinetes para limpeza, ou simplesmente, coçar o ouvido lá no fundo, pode empurrar a cera mais para dentro e com isso ela se compacta formando a rolha dura que entope o canal. Ocorre diminuição da audição e desconforto até a dor. Fica impedida a equiparação da pressão atmosférica antes e depois do tímpano.
Quem já teve orelha entupida com cera durante alguns dias, sabe o drama que isso representa. Nos deixa desesperados! Às vezes, a semi-oclusão permite a passagem de água dos mergulhos ou mesmo dos banhos para trás da semi-rolha, chamemos assim e, não podendo voltar, fica encostando-se ao tímpano e irritando (doutor, estou com água dentro do ouvido...).
A pessoa que mostra estes sintomas deve, realmente, procurar recursos com um Otorrinolaringologista (ORL) ou, até mesmo, um Clínico Geral, se for adulto, ou Pediatra, se for criança (crianças também têm estes problemas com cera ou mesmo corpos estranhos que colocam no local e depois começam a doer).
A otoscopia já nos dá informes das causas do desconforto. Se for cerume impactado, deve ser removido o quanto antes, para evitar problemas maiores e a remoção é um procedimento médico relativamente simples (porém delicado) e em alguns casos pode dar muito trabalho e há riscos.
A retirada da rolha por aspiração usando uma maquininha a vácuo, é o modo menos traumático porque suga em vez de assoprar, porém a dificuldade é que normalmente só os especialistas têm tal equipamento. A lavagem de ouvidos é o modo mais comum de enfrentar o problema. O uso uma pequena pazinha que ajuda a puxar corpos estranhos do conduto externo pode ser bastante útil. Quando é possível, que dá tempo, como se diz, usamos um medicamento no ouvido externo que tem ação solvente sobre a cera para facilitar o trabalho. Basta pingar 2 a 3 vezes ao dia, 2 a 3 gotas no local que facilita muito. No comércio, são vendidos com nomes de fantasia de Cerumin, Oto-Cer, etc.
Quando o desconforto por dor é muito grande, devemos tentar a remoção imediatamente. Dê ou não muito trabalho. A chamada lavagem de ouvidos não deve ser feita em pessoas que têm o tímpano perfurado, é óbvio, ou com graves infecções locais. Deve-se prevenir complicações. Caso contrário, o barulho do jato da água sobre o tímpano é que incomoda um pouco, mas não é para doer.
Trabalho feito, reavalia-se o canal auditivo externo e o tímpano e se não houver nenhuma lesão, nem há necessidade de se pingar medicamentos. Sugere-se apenas observação e nova otoscopia em 3 a 4 meses para verificação se não está se formando nova rolha. Com a orelha limpa e sem dor, o paciente tem condições de ouvir todas as recomendações médicas numa boa.
É recomendável pelo menos uma vez por ano, qualquer pessoa deixar-se examinar nos ouvidos. É um processo indolor, apenas faz cócegas e podemos surpreender alguma coisinha já ocorrendo. Preventivo otológico!
CONSELHO: Nunca enfie objetos estranhos nos ouvidos para coçar, tais como: grampos para cabelos, tampinhas de caneta tipo esferográfica BIC ou similar, palitos de fósforo, etc., por causa da possibilidade de lesionar o tímpano.
CURIOSIDADE: Você sabia que na China e na Índia existem “leigos” (não Médicos), especialistas em orelha? Acredito que só não usem otoscópio. Limpam os canais, removem cera, aparam os excessos de pêlos e recomendam cuidados. Atuam nas feiras livres de ruas, têm suas cadeiras próprias, aventais, paninhos, instrumentos e são muito ciosos dos deveres à semelhança dos barbeiros e cabeleireiros. Os usuários chegam a formar filas para serem atendidos em sua “toillete” de orelha. Questões e costumes culturais.
Rolha de Cerume
O cerume é produzido por glândulas específicas do meato acústico externo em pequena quantidade e eliminado espontaneamente. Tem função antimicrobiana, principalmente pelo pH discretamente ácido que apresenta, sendo um ótimo umectante da pele. Alguns pacientes o produzem exageradamente, devido a fatores ainda mal definidos e discutíveis,como, por exemplo: a individualidade, excesso de limpeza e possível alterações metabólicas, formando a rolha de cerume, que pode ocluir totalmente a luz metal. Em geral à secreção ceruminosa se juntam restos celulares e teciduais, conferindo-lhe consistência variada. As rolhas de cerume são encontradas mais freqüentemente em adultos. A remoção do tampão de cerume pode fazer-se por simples lavagem com água esterilizada morna, jamais com água fria ou quente em demasia, para não originar sintomas de estimulação labiríntica, empregando seringa apropriada de grande capacidade.
Não se adaptar agulha à seringa, para evitar traumas acidentais à membrana timpânica ou à pele meatal. O enema, a ponta do qual se adapta uma sonda de Itard, é boa alternativa, melhor que a seringa comum. O jato de água será dirigido para o quadrante antero-superior do meato. Caso a remoção não se efetue com facilidade, utilizam-se substâncias emolientes próprias, encontradas no mercado farmacêutico, o que facilitará a manobra. Algumas crianças - e mesmo adultos - podem apresentar reações de quase pânico ao trabalho no meato acústico externo, dificultando ou impedindo manobras de limpeza. Em última instância, aconselhamos anestesia geral. A remoção de rolhas de cerume através de instrumentação deve restringir-se ao especialista. A utilização de solventes de cerume sem a lavagem posterior é inútil e pode ser extremamente irritante, em virtude da atividade ceratolítica dessas substâncias.