domingo, novembro 25, 2007

Antes que eu me esqueça...





Agora que já contei um milhão de vezes sobre minha viagem ao Marrocos, ao vivo, para amigos, vou escrevê-la aqui, para os que estão longe, para os que ainda não estiveram comigo, para quem não tem saco de ouvir minhas histórias, para ficar guardado... sei lá.

Buenas, tudo começou saindo da soterópolis e indo pro Rio, pro Galeão, pro Tom Jobim. Nunca sei como chamar este aeroporto. O nome mudou pra Tom Jobim, mas todos chamam de Galeão, diferentemente do aeroporto de Salvador, que mudou de 2 de julho para Luis Eduardo Magalhães, e o último nome é que pegou.

Eu achei que o vôo tinha atrasado uns 15 min, meia hora, mas parece que atrasou uma hora, não sei, esta coisa de fuso horário (também conhecido como horário de verão), me confundiu toda. Ao sair de casa, decidi não me preocupar muito com as horas, a não ser para pegar transportes no horário. No mais, tudo seria regulado pelo horário das refeições que me fornecessem.

Então, no Galeão, Tom Jobim, no Rio, me encontrei com a Ana (Ana Lucia, que mora em Niterói, mãe da Carol e do Alexandre, esposa do Marcos - é importante contextualizar porque eu conheço 25.473 Anas). Aí ficamos de papo. Ela me deu uma pulseirinha super fofa, de madeira (ou côco, ou algo assim natural) e que combinava perfeitamente com os brincos que eu estava usando (que são quase meus brincos preferidos, que comprei lá em Morro de São Paulo, este ano, quando fui com a Marisa, e que são feitos de côco). Depois de muito tempo, resolvemos almoçar. Confesso que nem estava faminta, porque tinha comido um sanduiche quente no vôo da TAM. E até estava bom, acho que tinha beterraba na massa do pão. Sei lá, era bem gostosinho. Ainda mais quando se está acostumada com Maxi Goiabinha Bauducco.


Para o almoço, fomos no restaurante do Siri. Óooootimo, em todos os aspectos. Atendimento rápido, eficiente, e fofo. A comida, uma delícia e super bem servida, pratão gigante. Comemos um peixe e tinha uns legumes e aspargos e palmitos... e enchemos a cara, claro, porque ninguém é de ferro. Enchi a cara naquelas, tomei só uma caipirinha. Fazendo a linha comportada. Depois pegamos um táxi e voltamos pro aeroporto. Esse restaurante fica na própria Ilha do Governador, é tranquilinho pra ir durante uma conexão. Vale a pena. Ah, sim, o carinha do taxi (também conhecido como taxista) quis cobrar 15 reais da gente na ida. Mó cara de pau, não quis ligar o taximetro. Olha o papo: dentro da Ilha é preço único. Gracinha, né? A gente deu 10 e pronto. Na volta o tiozinho ligou o taxímetro.

Voltamos pro aeroporto e fomos direto pro check in da Air France, várias filas... mas na Air France, tudo vazio. Um segundo de pânico - já que eu me tornara um ser sem relógio (e sem noção). Ok, era ali mesmo, não tinha viva alma na minha frente, fiz o chek in, a mocinha disse que já era pra embarcar. Fomos pro portão de embarque, me despedi da Ana e entrei. La Policia. Tá. Chego no saguão de embarque e uma mocinha me ataca, pra me "informar" que nos vôos para a europa agora são solicitados assistência médica e não sei o que, perguntou se eu tinha, tentou me VENDER um seguro lá. É foda, no saguão de embarque!!! Outra mocinha tentou me vender cartão telefônico para ligações internacionais. Absurdo total, né? Olha, nem que eu quisesse, nem que eu precisasse, eu compraria algo nessas condições. É um abuso.

Ok, troquei mensagens no cel com minha mãezinha, o Samuel ligou. Fui pro orelhão, conversamos. Aí fui embarcar. Nesse meio tempo me dei conta que não pedi pra mocinha da Air France me colocar na janela. Droga. 10 horas de vôo sentada no corredor. Ou, pior, esmagada na fila do meio, entre um adolescente mala e um velho roncando. Era tudo o que eu precisava. Olhei meu bilhete. Hmmm. Será? Entrei na aeronave e sim, Deus é pai e estava de bom humor, eu havia ganhado um assento na janela. Embarque encerrado. Hein? Deus é pai, estava de bom humor e resolveu olhar pra baixo! Eu na janelinha e os dois assentos ao meu lado vazios! Praticamente uma primeira classe, fala sério!

Belê, vamos ao vôo...

O serviço de bordo da Air France é o melhor de todos que eu já experimentei, e tenho dito. Ok, quando eu digo serviço de bordo eu quero dizer rango. KLM, TAM, Varig, Gol, BRA, TAP, American Airline, Czech Airlines, British Airways, Air Canada... nada se compara a comidinha da Air France. O vôo foi isso, comi feito uma porca, enchi a cara de vinho, dormi até fazer bico, vi filminhos (Simpsons, Le goût de la vie, um episódio de CSI e comeceia ver Waitress, mas dormi), joguei paciência, e ouvi musiquinhas (as músicas são chatinhas, é verdade).



Cheguei em Paris no Charles de Gaulle e fui seguindo as setas, e o fluxo de pessoas, mas eu até parecia que sabia bem para onde estava indo. Em um momento eu até estava na frente, peguei um metrozinho lá e um carinha e uma menina vieram me pedir informações. Eu disse que não fazia a menor idéia do caminho, mas que não se mostravam outras opções, então aquele deveria ser o lugar pra ir pegar as bagagens. Sim, porque tem que andar, pegar "metro", desce escada, vai aqui, vai ali, tudo pra chegar na esteira de bagagens. E em alguns momentos não há indicações escritas informando pra onde ir, tampouco dizendo pra onde não ir, então fui seguindo os caminhos possíveis. Aí o menino pra mim: ai, das outras vezes que vim aqui acho que não era assim, por isso estou me confundido. Vaaaaaaaaaai te catar! Não, eu nunca vim no CDG, meu filho, mas eu achei as esteiras antes de ti-i, la la la laaa!

Tá, peguei minha malinha e qual minha surpresa quando vejo que meu cadeado NÃO está na mal. Oh oh. Ai fui abrir a mala, puuuta, pra ver se tinha sumido algo. Mas era estranho porque a faixa de segurança estava lá (tá ligado, aquelas faixas com segredo? não? Ih, meu bem, tá precisando viajar mais...). Aí fiquei lá um tempo e daqui a pouco vi meu cadeadinho cor de rosa passeando solitário, abandonado na esteira. Peguei meu cadeadinho e fui-me embora.

Aí eu, A francesa, fui tentar descobrir como chegar na Gare du Nord. Usando todo meu francês, consegui comprar um ticket e encontrar o trenzinho (nem é dificil) e me fui. Cheguei na Gare du Nord e fiquei esperando meu amigo Heiko. Neste meio tempo fiquei observando as esquisitices européias. Aí tinha um carinha, com um moleton e capuz que ficava andando pra lá e pra cá. Muito esquisito. Daí eu vi que ele ficava olhando as mulheres e daí saia seguindo as presas e falava alguma coisa, depois voltava e assim continuava. Sinistro...



O Heiko chegou e daí fui largar minhas malinhas. Saímos caminhando pelas ruas de Paris e tomamos um chocolate quente tri gostosinho na Angelina (Angelina - Salon de Thé -226 rue de Rivoli 1er Arrondissement, tel: 01 42 60 82 00). Além disso, enchemos o bucho de docinhos doces. Sim, tudo com muito açúcar. Mais do que eu poderia suportar neste primeiro dia, mas nada que um organismo não possa se adaptar...



Minha estada por Paris foi de muitas andanças, pra compensar as comilanças. Andamos andamos andamos naquela cidade gélida, visitamos umas catacumbas lá, super interessantes, encontramos um negocinho escondido lá não sei aonde. É assim, meu amigo é chegado nestas coisas geeks, e daí ele tem um gps, e daíiii esse povo de gps e geek tem um tipo de brincadeira que consiste em esconder bilhetinhos em lugares supostamente interessantes em lugares espalhados pelo mundo. Então você pega pela internet as coordenadas do lugar, coloca no gps, e depois cata. Como o gps não é algo assim tãaaao preciso, tu tens que ficar rodando um pouco, meio perdido. Mas confesso que me diverti bastante procurando o bilhetinho lá. E, e, e... no fim das contas, eu que encontrei o pequeno invólucro preso entre dois canos lá, por um ímã. Engenhosinho. Dentro tinha um papelzinho e os outros geeks que por lá passaram colocaram seus nomes, data, horário e de onde são. Gente de todo lugar faz essas coisas. Meu nome ficou lá. Eu vou morrer e não vou ver tudo. Ah, sim, o que era interessante desse lugar é que é um jardim vertical, numa parede. Fica na fachada de uma loja. E o lance bizarro da noite é que estava tendo um teste para figuração em comercial/filme/peça, sei lá, qualquer coisa, mas só para homens. Aparentemente, estavamos num local gay friendly - no mínimo. E nessa loja tinha um dj lá colocando umas músicas eletrônicas e a fila enorme dos candidatos pro teste na frente. Muito divertido.


Ainda na sessão comilança, jantamos num restaurante japonês tri bom, com a melhor trilha sonora que já ouvi num restaurante na minha vida. Eu ia perguntar sobre o cd mas esqueci. Droga. Tinha um jardinzinho japa fofo... e começou a chover horrores. Mas ainda bem que parou e de lá saímos pra terminar de encher o bucho numa loja Hagen Dazs. Um delírio. Sabe qual é a única parte injusta dessa história toda? É que o Heiko é magro, o filho da mãe. Puta mundo injusto, mêu!

Acabei me desencontrando da Salete, nessa brincadeira, porque deixei o telefone dela no hotel no segundo dia e ela não tinha marcado nada comigo, exatamente, só me dado o telefone. Então acabamos não nos vendo.

A saga para o Orly...

Peguei um trem lá, que iria para o tal Orly, o aeroporto de onde sairia meu vôo para o Marrocos. Tá. Fui. O tiozinho do trem confirmou que era ali (porque eu troquei do metro pelo trem numa parte). Belê, entrei na estação, um ar sinistro, pouco movimento. Parecia estações de filme, com letreiro com nome de vários trens e os horários. Fui pra plataforma, uma escadaria pra subir. Ainda tinha tempo, voltei e peguei um café com leite. Só tinha eu dentro daquela estação. Subo. Ninguém na plataforma. Um trem parado num dos lados (a plataforma é no meio). Eu olho e penso, bem, não deve ser o meu, não está na hora ainda. Não tinha viva alma pra eu perguntar. O trem partiu. Daqui a pouco vejo uma mulher, virada pro outro lado. Sei lá de onde ela surgiu. Tô lá, tomando meu cafezinho... aí, como quem não quer nada, perguntei pra ela se o ROMI (o trem que eu estava esperando) sairia daquele lado ou do lado em que eu estava. Daquele, ela me disse. Peguei minha malinha e o café e me virei pro lado de lá. O trem chegou. Não sei de oooooonde surgiu um homem que entrou no trem, subiu. Ela desceu. O trem tinha dois andares. Eu fiquei ali no meio, me decidindo, ensaiei subir, e resolvi descer. O homem tinha sumido, por isso eu desci. Tá. Ela estava lá, eu sentei lá e fiquei olhando no mapinha, tentando identificar onde eu estava, onde estava o trem, onde era Orly. Fui passando pelas estações e procurava no mapinha e não me encontrava... apelei e perguntei pra tia se aquele trem iria para o Orly. Ela perguntou se eu iria para o aeroporto, eu disse que sim, ela disse que iria para lá também. Ah, ótimo, fiquei tranquila. Mas vou descer antes e pegar uma carona de carro com a minha irmã, na estação tal, disse ela. Putz, fudeu. Mas se você quiser, podemos te dar uma carona. Ai, que pânico. Será agora que elas me sequestram e sou esquartejada e as coisinhas que comprei no supermercado em Paris, pra levar pro Brasil, serão divididas entre as irmãs?

Eu estava com o tempo apertadinho e muita ousadia nas veias, então topei a carona. Desci com a tia e esperamos pela irmã dela. Sim, sim, a esta altura meu francês mímico já estava fluente. A irmã chegou, e fala inglês. Uh, alívio para os neurônios. A irmã trabalhava na Air France. Viva mundo-ovo! E elas foram super fofas comigo e me deixaram no terminal que eu precisava ir. A irmã ainda me deu um cartão e disse para eu procurá-la na minha conexão da volta. Ela trabalha no CDG.

Fiz meu check in, dei uma voltinha pelo terminal ovo, fui pra sala de embarque-rodoviária e fiquei lá, mofando... e o vôo atrasou 1h. Embarquei, fiquei na janelinha e... de volta à sessão vamos comer! Eu estava louca pra comer, só tinha tomado aquele café com leite ruinzinho na estação de trem sinistra. Enchi o buchinho e fiquei feliz e contente denovo.

Cheguei no aeroporto Menara, em Marrakech. Descemos na pista e fomos caminhando até a entrada do aeroporto, passamos pela imigração e peguei minha malinha, dessa vez, com o cadeado. Então fui trocar euros por dinheirinhos locais: o Dirham. Troquei 100 euros, o que me fez ficar com mil e pouquinhos dirhams. Até me senti rica. Então fui procurar o pessoal da agência de turismo Pampa Voyage. Aviso: evitem essa agência!

Ok, encontrei a mocinha da Pampa. Super atrapalhadinha, ela. Tinha outras pessoas da conferência ali esperando. Tinha uma sueca bem comunicativa, e com um jeito bem... singular. Aí a mocinha estava esperando um tal de João Pereira. Eu pensei que fosse português ou brasileiro, com um nome desses. Esperamos, esperamos e nada. Ok, ela desistiu e fomos todos para uma van. Paguei o transfer, ida e volta, porque não era possível pagar a volta, na volta. O recibo, foi um post it escrito pago. Ai, ai. Algumas pessoas tinham pagado antecipadamente, mas a mocinha estava cobrando. Aí rolou uma pequena confusãozinha, mas tudo foi acertado. Meu destino foi o último. No caminho, as primeiras impressões da cidade: um calor do cão; mulheres cobertas e com os olhinhos de fora; muitos homens nos cafés, bares, aliás, somente homens; as construções todas da mesma cor, um tom salmão/marrom/areia escura/telha; vi uns camelinhos, muitas palmeiras. Todos ficaram em seus hotéis... e seguimos para a minha acomodação. Ainda mostrei o endereço que eu tinha anotado no papel, para a mocinha, que mostrou para o motorista, e conversaram, conversaram... e disseram que estava tudo certo. Ok. Deixaram-me no lugar, tiraram minha mala da van e tchau.





Entrei num portão e tentei explicar para um cara lá. Mas ele não entendia meu francês e eu não entendia o árabe dele. Aí tinha uma mulher, uma jovem e um cara, além desse porteiro que não me entendia. A menina foi me socorrer, ela falava inglês. Então os três conversaram em árabe. O cara pegou o endereço do lugar que eu deveria ir e telefone e ligou do celular para o local. A menina anotou em árabe informações e o endereço num papel. O porteiro parou um táxi. O cara conversou com o taxista, em árabe, claro, e tal, eu agradei a todos e segui no táxi. Nem preciso falar do meu pânico, né? Por uns segundos senti vontade de chorar, de raiva. Porque paguei 75 Dirhams praquela maluca da Pampa Voyage e me deixaram no lugar errado!!! Eu não falava árabe, eu não tinha a menor idéia de onde estava, estava num país onde as mulheres andam cobertas, etc.

O taxista me deixou na entrada da cidade universitária, que é onde fica a residência universitária. Falou com o porteiro, confirmou se lá era a cité universitaire, ainda perguntou pruma estudante que estava passando e dai me deixou lá. Beleza. Aí a menina essa foi me ajudar e conversou com o porteiro. Conversaram, conversaram e não, não era lá que eu deveria ir. Ai, meus sais!!!

Então a menina me disse que não era lá e disse que me levaria lá. fomos andando. Era próximo, ao lado, no Club de la Jeunesse, que é parte da cidade universitária, eu acho, mas não é juuuuunto, junto. Sei lá. É um lugar com piscina, quadra de tênis, restaurante, e alojamentos (predinhos e bangalôs). Aí chegamos lá e a menina, Raja, conversou com a mulher lá da administração. Ah, sim, a Raja falava inglês, ela é estudante de "Letras", estuda pra ser tradutora árabe-inglês. Sorte a minha, não? A minha sorte acabava quando a mulher da administração disse que meu nome não estava na lista, eu não poderia ficar lá. Ai, ai... aí começou a outra saga. A Raja ficou lá um tempão comigo, conversando com a mulher, nesse meio tempo, aparece o João Pereira, um brasileiro, carioca, que chegou até lá pegando um ônibus mais um táxi. O nome dele tampouco estava na lista. Muito tempo depois, a mulher resolveu nos dar chaves para os quartos, e então me despedi da Raja, meu anjo1.

O colega carioca foi para o quarto dele, eu fui para o meu. Depois saí e fui fazer um reconhecimento rápido da região, porque tinha visto um trocinho de internet. Finalmente, contato com o mundo exterior. Aí li emails, conversei, usei o skype. Estou lá na internet e o colega carioca chegou. Depois foi embora. Fui embora também e jantei um sanduiche no restaurante do alojamento. Tri bom. E tomei um suco de laranja. Fui pro quarto, tomei um banho estranho, já que o chuveiro estava quebrado, o cano quebrado, pendia o chuveiro (arrependo-me de não ter tirado fotos).

No dia seguinte, domingo, resolvi bater perna. Saí cedo, encontrei meu colega carioca, que só me cumprimentou, mas não extendeu o papo. Na esquina peguei um pão. O pão era meio doce. Foi engraçado, as pessoas chegavam e pegavam no pão com a mão e tal, escolhendo... nem quero imaginar quantos dedos passaram pelo meu pão. Eu acho que peguei mais alguma coia... ah, sim, um iogurte pra beber. A vantagem de estar num local próximo da residência universitária foi essa: ter internet baratinha (5 Dirhams a hora), vendinha completinha (melhor do que a tal da delicatessen aqui na frente de casa), teleboutique (um lugar pra fazer ligação de telefones públicos sem precisar de cartão, usando moedas diretamente), copiadora e, claro, uma mesquitinha básica bem em frente de "casa".


Andei, andei e andei pelas ruas de Marrakech, sem a menor idéia de onde estava, apenas tentando seguir por avenidas principais, para não me perder e saber como voltar. Adorei andar pela cidade, sozinha e observar, observar tudo e todos. Era manhã de domingo, havia pouco movimento nas ruas. Aliás, ruas limpíssimas. Vi um acidente de carro. No meio do caminho tinha um poste, tinha um poste no meio do caminho.

Depois encontrei uma livraria/sebo/revisteria e tinha dicionario francês-árabe, daí eu peguei e procurei mapa e mostrei pro tiozinho lá. Ele me vendeu um mapa. Daí perguntei onde estávamos, naquele mapa. Ele me explicou. Não estávamos no mapa. Ele disse que poderia me devolver a grana, mas eu disse que tudo bem. Depois vi que nenhum dos mapas tinha a zona onde eu estava, porque é mais nova e fora da parte turística. No fim, aquele mapa não me adiantou muito, pois eu continuava sem saber onde estava e pra onde ir. Como eu não tinha nenhum objetivo, tudo bem. Segui andando. Como eu adoro ficar perambulando pelas ruas de cidades que não conheço. Só eu sei o prazer que isso dá.

Passei por uma praça lindinha. Tentei encontrar um adaptador pra tomada, para eu poder carregar a bateria da minha máquina fotográfica, mas não encontrei. Então tirei umas três fotos apenas. Passei por um lugar que era a versão marroquina da Feira de São Joaquim, e logo em seguida avistei os muros da Medina, que são cidades construídas dentro de muralhas, com várias entradas. Hoje Marrakech está maior do que o que guardam os muros da velha Medina, mas existe muita vida no interior dessa, com pessoas que moram, trabalham, vivem por lá; há muitos turists, há hotéis, lojas, centros de artesanato; encontra-se restaurantes, feiras com comidas, frutas, carnes... é uma cidade, uma cidade labirinto, cheia de ruazinhas estreitas, caminhos surpreendentes, arquitetura exuberante. É sério, é de cair os butiá do bolso. Cada casa, cada portal, azulejos, caminhozinhos. É muito lindo.




Lá interagi com muitos vendedores, prometi voltar, para alguns, brinquei de barganhar, consegui bons negócios, com reduções de mais de 50%, mas não comprei nada, estava só pelo prazer do jogo. Pelo menos, meu prazer. Cheiros, nas especiarias; o "diferente" nas roupas; inusitados sapatos de Aladin; artesanato singular; madeira, muitas coisinhas em madeira; os tentadores xales; os deliciosos sabores. Memorável.




Segui andando até que cheguei na praça Djemma el Fna, que também descobri por acaso, e amei. Comprei uns postais, tentei comprar selos, mas para conseguir selos para o Brasil, só nos correios, pois nas tabacarias, só selo pra europa. Aí, por acaso, acabei encontrando o menino carioca novamente. Aí acabamos andando juntos pelo resto do dia. Encontrei meu adaptador pra tomada e decidimos ir para o alojamento e depois partir para o local da conferência, onde aconteceria, às 15h a abertura das coisinhas, com início da entrega do material.

Sugeri ir a pé, mas fomos tentar pegar um busum. Esperamos uma eternidade e acabamos indo a pé. Resolvemos perguntar sobre o local da conferência e acabamos indo direto pra lá - que era no caminho do alojamento, aliás. Chegamos lá e ninguém por perto ainda. Rolou uma confusão, o organizador disse que teríamos que trocar de acomodação e tal. O cara foi super grosso e estava todo estressadinho. Peguei meu material, mas deixei pra pagar minha inscrição depois, pois eu deveria pagar valor de estudante. Então o educadinho disse pra eu tirar cópia do passaporte, da página com o visto e do meu documento de estudante. O João decidiu ficar lá e eu resolvi ir embora, porque ia ficar tarde e eu não queria estar na rua ao anoitecer, pois esfria pra caralho e eu queria ter roupas quentinhas. Além disso, não queria ficar andando à noite pelas ruas.

Andei loucamente, andei moooito. E lá pelas tantas comecei a ficar preocupada. Ah, sim, o Khalid, o educadinho do organizador, havia dito que o alojamento era pertinho, era só pegar "ali e ir ali". Ah, ganhamos mapinha com o material da conferência. Andei pelos "alis" indicados pelo Khalid, mas me perdi. É... me perdi. Perdi bonito. Perdida perdidamente perdidaça. Total. E começou a bater um pânico. Eu só encontrava homens na rua... tentei pedir informações pra duas meninas, mas elas não falaram comigo. Eu andava pelas ruas e ouvia caras passando e falando alguma coisa, mas me fazia de desentendida. Não, na verdade eu realmente não estava entendendo... meu árabe ainda não tinha evoluido a esse ponto.

Num determinado momento de completa perdição(sic), vi uma teleboutique com copiadora, e duas meninas trabalhando. Entrei, pedi pra tirar cópia da carteira de estudante e já aproveitei pra pedir informações: COMO EU FAÇO PRA CHEGAR AQUI!!! A menina tentou me ajudar, saiu, perguntou pra sei lá eu quem, voltou, e tava lá tentando me explicar. Nesse meio tempo entrou um menino pra fazer uma ligação. Quando ele ia saindo a menina perguntou pra ele sobre o endereço. Ele conhecia! Daí foi me desenhar um mapa. Depois foi até a rua e ia me indicar pela rua como chegar lá. Tudo isso no meu francês de Molière... aí eu perguntei pra ele se falava inglês, ele disse que sim. Pronto. Ficamos conersando direto e ele me levou até a porta de casa, o que significou uns 40min de caminhada. Muito fofo ele, né? Madani, meu anjo2. Então combinamos de tomar um café no dia seguinte, quando eu saisse da conferência, e ele do trabalho. E assim fizemos.

Sim, sim, eu vou pular a parte da conferência em si, isso só interessa para as fofocas acadêmicas entre os pares, e não colocarei aqui. Só deixarei meu registro de repúdio ao comportamento de vários brasileiros que estavam lá mas mal foram vistos no evento. O povo parece que foi pro Marrocos pra passear. Fiquei com nojo, sério. Lamentável. Tem gente que eu vi que foi só na primeira manhã e depois no dia de apresentar seu trabalho. É muita falta de consideração com o dinheiro público - sim, porque essas pessoas têm suas despesas pagas pelas universidades que trabalham e agências de fomento de seus estados ou do país. Logo, dinheiro público. Mas corruptos são os outros, né?

Ah, e também registrarei a falta de organização do evento e a baixa qualidade de alguns trabalhos. Foi bom, claro, conheci pessoas interessantes, vi experiências bacanas, etc, etc, mas foi um tanto frustrante. Ah, sim, sim, repetindo, e o organizador era um grosso.



Outra coisa da conferência, mas não dela dela em si, foi a comida: noooooooossa, eu comi feito uma camela (sei lá se camelo come muito, mas eu comi muito). A comida é maravilhosa e os almoços na conferência (que foram pagos) foram perfeitos, fantásticos, gigantes, deliciosos.

À noite, encontrei-me com o Madani e fomos tomar um café, pegamos um táxi e descemos no bairro Gélitz. Foi um choque positivo. Era outra Marrakech. Muitas luzes, prédios iluminados, lojas, Mc Donalds, outdoors; meninas e meninos pelas ruas; alguns pequenos grupos gays reunidos. Cara, era outra cidade completamente diferente do que eu havia visto até então. E gostei. Depois disso eu fiquei muito mais tranquila, andando sem medo, e sem me achar muito 'diferente'. Acabei percebendo que "tem de tudo" em Marrakech e não há razão pra paranóia. Não andei de mini saia e top, claro, mas não senti a necessidade de seguir um código de vestimenta muito estrito.

Caminhamos bastante e depois sentamos num restaurante legalzinho. Tomei uma bebida lá que é uma batida de umas frutas (vitamina, pros não gaúchos). Nos coffee breaks da conferência sempre tinha batida (vitamina, vitamina...) de banana, de abacate... tri bom! Depois andamos mais, ele me mostrou uma igreja católica, a primeira da cidade (por isso o bairro se chama Gélitz, porque era onde tinha a igreja, eglise... gelitz...). O Madani foi fantástico, me explicava tuuuuudo da cidade, da cultura, dos hábitos, de qualquer coisa que eu perguntasse, o cicerone perfeito. Aí íamos embora, eu já estava podre... ele resolveu que iríamos comer, então fomos jantar. Comi um tagine MA-RA-VI-LHO-SO, me apaixonei por esse troço. Então ele me levou pra casa e desmaiei. E nessa noite consegui dormir.

Eu sei que esta entrada está gigante, mas não vou falar de tuuuudo da viagem, pode ficar tranquilo, caro leitor. Eu tive dias e noites maravilhosas e cansativas, andei muito, trabalhei bastante, aliás, minha apresentação foi bem legal, de acordo com terceiros. Eu achei meio nada a ver, pois estava desanimada com o andamento do evento, a organização precária. Minha apresentação foi na sala principal, a das conferências, e falei no microfone, lugar grande. Detesto isso, gosto de salinha pequena, poucas pessoas, melhor possibilidade de interação. Enfim...

Durante as noites, saia com o Madani, fomos na Djemma el Fna à noite, para andar e comer. À noite a praça é completamente diferente do dia, foi mágico. Comi umas linguicinhas com ele... muito engraçado, coisas que eu não comeria nem a pau aqui no Brasil. Tomamos chá na casa dele, com amigos eeeeee... na última noite, fizemos tajiiiiine, sim, sim, sim, ele me ensinou.



Até comprei um. O meu eu paguei 20 dirhams, equivalente a 5 reais. Aí neste site, está por 28 dólares, 56 reais. Hilário. Comprei temperos também. E eu queria porque queria comprar couscous pra fazer aqui. Comprei. Daí o Madani disse que eu precisava de uma panela especial pra fazer o couscous. Fomos à caça da peça. Encontramos. No caminho, encontramos uns livros de receitas. No fim, ganhei de presente o livro, a panela, e um conjunto de copinhos típicos para o chá.

Ok... a volta!

Cheguei em Orly, fui pro charles de gaule, num ônibus da Air France, que me custou 16 euros. Por que não peguei o trem? Greve. Sim, estava tudo parado em Paris, há dias. Cheguei no CDG, fui despachar as malas, e fui informada de que havia overbooking, venderam mais passagens do que assentos disponíveis, e o povo foi. Recebi a oferta de dormir lá, ganhar 300 euros em voucher para usar em viagem futura, ou sacar 150 em dinheiro, dormir num hotel com direito a café da manhã, e fazer um lanchinho. Pensei, pensei e topei. Mas não se engane, é ultra cansativo, fiquei sem o lanchinho, no fim, porque tudo já estava fechado no aeroporto, quando do momento do embarque - e confirmação final do overbooking. É um puta desgaste, você fica sem sua mala, tem que fazer tudo sozinha, tem umas pernadinhas pra dar no CDG até o hotel, e não se "aproveita" nada de ficar em Paris. Lembrei do Pedro, fiquei num Ibis. Estava roxa de fome, peguei uma lasanha, vinho, água, pão... no hotel. Sim, eu paguei, 13 euros (isso me lembra que tenho que preencher o cartão pro reembolso). Dormi maravilhosamente bem, pouco, mas bem. Cheguei no hotel às 2am e meu vôo era às 9h. Então dormi pouco, tinha que estar às 8h, no aeroporto, etc. Não foi terrível, não, mas só faça isso se você for uma pé rapada como eu e se vende baratinho. Caso contrário, vá pra casa duma vez.

Ai, tá, antes de eu ir para o berço, deixa eu falar só mais uma coisinha: a rodoviária do Galeão. Pelamordedeus, que aeroporto nojento!!! Gente, o que são aqueles banheiros da SALA DE EMBARQUE??? Podre de sujo, sem papel, um noooojo. E o que é o bando de vendedores dentro da SALA DE EMBARQUE??? Vendedor de revista, de cartão telefônico, de seguros... putaqueopariu. O que está acontecendo lá? Lamentável! Ah, lembram do meu cadeadinho cor de rosa? No Galeão fiquei esperando um tempão pra ver se ele iria aparecer na esteira de devolução de bagagens e nada. Sim, ele caiu novamente da mala. Sim, eu percebi que não é um cadeado tão confiável assim. Sim, eu queria ele de volta. Mas, sim, eu desisti.

Depois que cheguei em casa e desfiz as malas, fiquei felizinha ao encontrar todos os meus produtinhos intactos, meu tagine, meus copinhos, a panela, os temperos, chocolatinhos, espelhinhos... no fim de tudo a única coisa que eu lamento é não ter tirado mais fotos e, particularmente, não ter uma foto com a fofíssima da Raja, meu anjo1. As fotos da viagem estão aqui - ainda não coloquei todas, verifique periodicamente para atualizações :-)

Por fim, registro que adorei o povo de Marrakech, que foi super atencioso comigos, todos solícitos e gentis - ao seu modo. Espero voltar ao norte da África, mas em férias...

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Vai, abre teu coração...